Para celebrar a fase dos 50 anos do ator Carmo Dalla Vecchia, em março do ano passado, ele me concedeu uma entrevista que foi publicada nesta mesma Revista MIX. A pauta era a vida aos 50, a profissão e atualidades. Entre as questões, um combo de perguntas sobre relacionamento, casamento e família. Na ocasião, ele pediu compreensão e preferiu não falar a respeito da vida pessoal. Compreendi, mas confesso que eu tinha muita vontade de ouvi-lo falar a respeito de ser um homem gay, bem-sucedido e com mais de 25 anos de carreira. Eu sabia o impacto que isso teria em termos de representatividade. Como eu sabia que o Carmo era gay antes de ele assumir isso em público, em julho do ano passado, em rede nacional? Por coincidência, ele estava na primeira festa LGBT+ que eu fui na vida, em 2003, no antigo Sanduba (na Pasqualini), aqui em Santa Maria.
Na época, ele já havia atuado em Engraçadinha, série de 1995, e estava prestes a lançar o espetáculo ¼ de Amor, que estreou naquele mesmo ano no Theatro Treze de Maio, e que viajou o Brasil. Óbvio que eu o reconheci e achei o máximo um ator global, de alguma forma, fazer parte de um dos momentos mais marcantes da minha vida, quando comecei a ser e a viver quem eu realmente era. Em entrevista recente, contei isso a ele, que reagiu com um “Viva o vale!” (vale é como chamamos o local onde vivem pessoas LGBT+).
A matéria do ano passado foi publicada em abril e, alguns meses depois, os quase 51 anos de idade, o casamento de 17 anos com o autor de novelas João Emanuel Carneiro, a paternidade, além de outros gatilhos, chamaram Carmo a ocupar seu lugar de fala. Afinal, por que não reconhecer privilégios e usar a visibilidade de uma carreira consolidada e bem- sucedida para servir de exemplo e humanizar a imagem do homem gay, bem-casado, feliz, pai de família e de sucesso? A ocasião para essa revelação não podia ser melhor. Um domingo à noite, durante o programa Domingão do Faustão, na reta final do quadro Superdança dos Famosos.
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No fim de semana de Dia dos Pais, Carmo Dalla Vecchia fala a respeito da paternidade, da família e revela por que ocupou seu lugar de fala como LGBT+
O gancho para homenagear o marido e o filho que, até então, a grande massa do país desconhecia, foi a exaltação à canção We Are Family (Nós somos uma família), do grupo Sister Sledge, lançada em 1979, e que ele estava prestes a dançar.
– Essa música fala a respeito de empatia, sororidade e de família. E quero mandar um beijo grande e declarar o amor ao meu filho, Pedro, e ao meu marido, João. Eu acho importante esse posicionamento para que outras pessoas possam ver isso e se sentirem iguais. Sou feliz e realizado com minha profissão, amigos e família, que me aceitam como eu sou. Mas vivo em um país onde não necessariamente é assim. Então, se meu exemplo pode servir para ajudar outras pessoas, para ter essa representatividade, eu fico feliz de ser essa pessoa – disse, na ocasião, a Tiago Leifert.
Além disso, Carmo ressaltou um dado triste relacionado à violência.
– O Brasil é o país que mais mata mulheres trans no mundo. E isso é algo muito triste. Isso fala da nossa educação ou da falta dela. Algo que devemos pensar – ressaltou.
A partir dali, nascia para o Brasil o Carmo marido, o Carmo pai e o Carmo representativo. Agora, neste fim de semana de Dia dos Pais, e prestes a completar 52 anos, no próximo dia 21, o ator fala a respeito da paternidade e de orgulho LGBT+. Confira a entrevista completa na Revista MIX do fim de semana e no site, a partir de sábado.
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